No começo deste milênio, o forte aumento do consumo da China provocou a explosão, entre 2002 e 2010, dos preços dos minérios e das commodities alimentícias que o Brasil exporta. Assim, uma enxurrada de dólares ingressou no país e as reservas internacionais atingiram US$ 370 bilhões, mais que nossa dívida externa. Lula pagou US$ 30 bilhões que o Brasil devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e faturou politicamente (aliás, foi um mau negócio, pois a taxa de juros era de 3% ao ano e a dívida não estava vencida).

Após 2010, o bom quadro internacional se inverteu e a euforia acabou. Veio a crise financeira mundial de 2008, a China entrou em retração, os preços das exportações retrocederam, Dilma cometeu erros, e o Brasil entrou em recessão. O Produto Interno Bruto (PIB) terminará 2016 em torno de 7% menor que o PIB de 2013, e a população segue aumentando em 7,2 milhões a cada mandato presidencial de quatro anos. É nesse cenário que perigosos ladrões estão levando seu dinheiro, principalmente se você for assalariado. Destaco quatro deles.

O primeiro é a inflação. Em 2015, a inflação oficial fechou em 10,67%. Os preços sobem quando o governo emite moeda, seja fabricando cédulas ou expandindo os meios escriturais bancários. A inflação é o maior inimigo de seu dinheiro. Ela corrói o poder de compra dos salários e desvaloriza os ativos das pessoas. A inflação é uma das causas de empobrecimento. Os ricos se defendem dela; os pobres não.

Depois vêm os impostos. Em 1985, o presidente Sarney reclamou que a carga tributária era de “apenas” 21% da renda nacional. Ao fim do governo Fernando Henrique, em 2002, os tributos comiam 32,6% de toda a renda do país. Lula elevou a carga para 36%. No atual ritmo, em dois anos chegaremos a 40%. Mais impostos significam menos renda pessoal disponível. É você mais pobre.

Em terceiro lugar, há o FGTS. O saldo na conta do FGTS é uma via pela qual o governo está comendo seu patrimônio (se você for trabalhador assalariado). A taxa de juros que o governo paga sobre o FGTS é de 3% ao ano, mais a Taxa de Referência (TR). A TR é manipulada e anda próxima de zero. Somente no ano passado, quando a inflação foi de 10,67%, o FGTS rendeu menos de 4%. Ou seja, você “entregou” ao governo quase 7% de seu patrimônio somente em 2015. No longo prazo, seu dinheiro no FGTS será dilapidado. Isso só não acontecerá se a inflação anual ficar abaixo de 3% ao ano. Alguém acredita?

Por fim, vem a Previdência Social. O trabalhador paga até 11% de seu salário para o INSS (limitado ao teto-base de R$ 5.189,82). O patrão paga mais 20%, não do teto, mas sobre o salário total. Nos últimos tempos, você foi informado que a Previdência Social faliu. Se não for funcionário público com direito a aposentadoria igual ao salário integral, não espere que o governo vá cuidar de você na velhice. No passado, o teto do INSS chegava a dez salários mínimos, isto é, R$ 8,8 mil em 2016. Acabou! O teto atual é de apenas 59% desse valor, ou seja, pouco mais de cinco salários mínimos.

Diante de tal quadro, o que fazer? Primeiro, não esperar ajuda nenhuma do governo. Segundo, saber que os ladrões de seu dinheiro continuarão agindo. Terceiro, buscar educação financeira para defender-se dos ataques. Quarto, montar seu plano financeiro, construir suas próprias reservas e cuidar de seu futuro. Ou faz isso, ou sua velhice poderá ser dura e triste.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.