Diretora da “Terça Insana” fala sobre seus projetos e personagens.

Grace Gianoukas é atriz, autora, produtora e diretora de teatro. Atualmente, dirige o projeto “Terça Insana”, uma das peças de teatro mais vistas no país. Na TV, brilhou no programa Ra-tim-bum, da TV Cultura, e fez outros trabalhos como a Escolinha do Professor Raimundo, com o grande Chico Anísio. Grace conta todos os detalhes do início de sua carreira, suas experiências no teatro e muito mais em entrevista exclusiva. Confira:

Como foi o começo de sua carreira e como isso a levou para a comédia?
Eu estava cursando o primeiro semestre de Bacharelado em Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul quando fui convidada para atuar numa montagem teatral do pessoal que estava concluindo o curso de Direção Teatral. O espetáculo foi apresentado dentro da universidade, mas muita gente de fora assistiu. Eu mal sabia o que era atuar, até aquele dia eu só tinha feito teatrinho na escola primária, e, por incrível que pareça, meu trabalho foi elogiado pelos colegas, professores e por alguns convidados que eu não conhecia, mas depois vim a descobrir que eram profissionais de teatro. A partir daí surgiram vários convites para atuar em espetáculos profissionais, mas os primeiros anos de trabalho, como em qualquer profissão, foram anos em que desbravei a minha área, fui adquirindo experiência. Não é a faculdade nem o diploma que te torna um profissional, quem forma um profissional é o tempo. Neste ano, estou completando 30 anos de carreira na área de artes cênicas. Meu reconhecimento profissional se deu no teatro, desde meados dos anos 80 os meus espetáculos em que atuei, dirigi ou escrevi, conquistaram um público fiel, excelentes críticas e muitas capas de jornais e revistas de arte. Os convites para TV surgiram por causa da enorme repercussão dos meus trabalhos no teatro. Eu sou atriz, autora, produtora e diretora de teatro, não faço apenas comédia. O que dá a impressão de que eu estou seguindo o caminho da comédia é o enorme sucesso do Projeto Terça Insana, que é apenas um dos trabalhos que desenvolvo atualmente.

Como é dirigir uma peça de teatro?
O meu trabalho como diretora geral do Projeto Terça Insana, e como diretora artística dos espetáculos segue a via positiva. Meu objetivo é iluminar e promover os acertos dos atores nos seus processos de trabalho. A Terça Insana é uma escola de formação de autores que promove, lapida e desenvolve o potencial dos atores. O Projeto Terça Insana mantém uma central de criação teatral dedicada à comédia, em constante atividade, buscando sempre novas ideias, novas formas e assuntos para fazer humor. Convidamos atores para participarem do elenco fixo por um determinado período com a intenção de transformá-los em autores de seus próprios personagens e textos, para que possam sair do Projeto Terça Insana capacitados para produzir comédia de qualidade.

Como surgiu a ideia de criar a “Terça Insana”?
A “Terça Insana” surgiu num momento em que eu estava inconformada com a mesmice e a superficialidade da cena teatral no final dos anos 90. Estava de saco cheio da mediocridade e da caretice preconceituosa que pairava sobre a comedia da época. A ideia era de criar um projeto teatral ligado à comédia, com uma central estudos, criação e pesquisa de linguagens de comédia, proporcionar à nova geração de atores, ambiente de encontros pra reflexão e troca de ideias, montar um núcleo de investigação de temas e questões contemporâneas relevantes, pouco discutidas pela sociedade da época, onde eu pudesse oferecer meu “know-how”, minhas experiências e todo conhecimento que adquiri nos anos 80 ao atuar em espaços underground, alternativos, sem nenhuma tradição nas artes cênicas, e fomentar o aprofundamento dos conteúdos, buscando ideias originais para levar aos palcos da comédia assuntos que nunca tinham estado lá. Há doze anos eu venho me dedicando muito e investindo tudo pra manter os ideais e diretrizes do Projeto “Terça Insana”.

Antigamente, as apresentações do Terça Insana eram feitas em bares. Como era lidar com um publico tão de perto?
Não era exatamente um bar, era um Cabaret. Cabaret é uma casa de shows, com palco, camarins, iluminação e toda estrutura cênica, só que ao invés de poltronas, o espaço da plateia tem mesas, cadeiras e serviço de bar. Eu adoro olhar no olho das pessoas, quanto mais próximo o público estiver mais intensa é a troca.

Atualmente você se encontra no Teatro Itália com a “Terça Insana”, dirigindo e atuando. São quantos personagens por seção, tem convidados especiais?
A cada mês o roteiro do show se modifica pois além de receber diferentes convidados, a cada mês eu apresento dois ou três diferentes personagens do meu repertório.

Como é o processo criativo ao desenvolver um personagem para o teatro?
Nós criamos sempre. Em São Paulo, o Terça Insana é um projeto que a cada mês cria um espetáculo completamente diferente, inspirado em um tema que dá margem a novos personagens e textos. Também estamos sempre pesquisando e inventando. É um projeto que tem como proposta uma criação constante, e é proibido se acomodar. Nós também temos um controle de qualidade muito grande em relação a tudo: texto, mensagem e conteúdo. É um humor bastante crítico, sem baixar o nível.

Tem alguma novela ou personagem na qual o publico lembra muito de você?
As pessoas me reconhecem muito na rua por causa da “Terça Insana” e por causa do Ra-tim-bum. Recentemente fiz uma participação na novela Guerra dos Sexos que me parece ter agradado algumas pessoas, pois muita gente me parabeniza e me pergunta se a personagem vai voltar à novela…

Há alguns anos você participou do elenco do Ra-tim-bum, na Televisão. Como foi essa experiência?
Foi uma grande honra receber o convite do Fernando Meirelles e da sua equipe para integrar o elenco do Ra-tim-bum. Foi uma experiência maravilhosa, é o trabalho de TV que mais me orgulho de ter feito, pela ousadia do programa, pela seriedade de seus objetivos, pelo nível elevadíssimo do conteúdo, pela qualidade dos profissionais envolvidos, pela criatividade e principalmente pela oportunidade que o Ra-tim-bum me ofereceu, de colaborar positivamente na formação de várias gerações de crianças no Brasil e no mundo.

Continuando a falar de TV, como foi participar da Escolinha do Professor Raimundo?
Também sou extremamente grata por este trabalho, pois lá tive a oportunidade de conhecer artistas que respeito muito, que foram os grandes mestres do Teatro Mambembe, do Teatro de Revista, do Rádio e das chanchadas do cinema brasileiro. Ouvi muitas histórias e aventuras deste artistas extraordinários que ajudaram a construir a história da arte e da cultura brasileira, como Zezé Macedo, Walter D’Avila, José Vasconcelos, Francisco Milani, Ivon Curi, Rogério Cardoso e o próprio Chico Anísio.

Como foi ganhar o prêmio Mambembe e Troféu Açorianos?
Fiquei contente, sou muito grata, principalmente porque é uma honra receber prêmios legítimos, oferecidos pela classe teatral e pela crítica acadêmica, pois esses prêmios são apenas o troféu, ninguém ganha dinheiro, ninguém faz lobby pra ganhar estes prêmios.

E para fechar nossa entrevista, quais os canais que podemos seguir seus projetos?
Aí vão os canais: twitter: @tercainsana; Facebook: facebook.com/tercainsanaoficial e pelo site www.tercainsana.com.br.

Entrevista: Rita Gabriele Zuini. Foto: Divulgação.