Carlos Augusto Ramos é o mais novo garoto-propaganda do sistema político falho do Brasil. Ele nada mais é do que Carlinhos Cachoeira, homem que movimenta ainda um grande mistério de informações e de valores aproximados totalmente desconhecidos.
Em primeiro momento, na Operação Monte Carlo, calculou-se que o grupo de Cachoeira teria movimento de R$ 4,5 milhões em bingos e caça-níqueis.
Mas há investigações sequenciais que indicam mais de R$ 36 milhões circulando pelas contas do grupo. Já na Operação Las Vegas, acredita-se que o envolvimento da rede de Cachoeira chegaria aos 180 milhões de reais.
Políticos envolvidos até o pescoço com os esquema são muitos. Provavelmente você já ouviu o nome de alguns deles. Demóstenes Torres, Marconi Perrillo, Stepan Nercessian – isso mesmo, aquele que já foi ator de novelas da Rede Globo -, Carlos Alberto Leréia, Jovair Arantes, Rubens Otoni e Sandes Júnior.
Sem dúvidas, estes são apenas alguns, únicos pegos e identificados nas grandes investigações do momento. É claro que há mais pessoas públicas envolvidas nesta rede. Como em qualquer outra, seja de corrupção, de prostituição, drogas, armamento ilegal etc, nem todos do bando são presos ou investigados.
Há tempos a legalidade do jogo do bicho é discutida, porém, vista como delírio por parte de polícia e das autoridades. Assim como também se enxerga um grande delírio a legalização de drogas ou mesmo do bingo – que há tempos já foi legal no Brasil. Só para ter ideia, o mercado do jogo movimenta R$ 17,5 bilhões, e só do jogo do bicho, são mais de 600 mil operadores.
Algumas correntes discutem o direito de cada ser humano fazer o que bem se entende. Se o desejo dele é perder seu dinheiro em jogos ou consumir drogas, trata-se de um problema do próprio cidadão. Sim e não!
Para as pessoas esclarecidas, isso é muito fácil, afinal, as situações acima passam a ser simples porque para elas encaram tudo como entretenimento e diversão.
Já para as pessoas que tem dependência, ou mesmo não sabem que a tem, seja no jogo ou nas drogas, o “buraco acaba sendo mais embaixo”, e a perda de fortunas e da moral para sustentar o vício são intensos e dolorosos para o indivíduo e também para a família.
Os dois assuntos tratam-se de debates amplos, longe de poderem ser descritos com o valor que merecem neste editorial. Países liberaram, regularam e tem os temas muito bem resolvidos em sua política. Aliás, a regulamentação de setores reduz drasticamente a corrupção.
Mas enfim, o Brasil já perdeu faz tempo a guerra contra o jogo e contra as drogas.
A discussão para regulamentação e organização dos setores são caminhos inteligentes e que removem o envolvimento de pessoas mal-intencionadas e autoridades no problema. Aí sim as máfias deixariam de existir! Isso sem falar no recolhimento de impostos e amparo do governo em campanhas educativas que visariam o não consumo exagerado.
Os gastos com investigações e análise de super-esquemas envolvendo políticos e bicheiros acontecem há décadas.
Os bicheiros, doleiros, traficantes entre outros contraventores investem em campanhas de políticos porque sabem que terão segurança necessária para continuar com seu negócio.
Os políticos, por sua vez, continuam aceitando ajuda de contraventores em suas campanhas e negócios paralelos. A ideia é manter a cachoeira de dinheiro em seus gabinetes, cachoeiras estas que normalmente tem acesso após serem eleitos.
Carlinhos Cachoeira não é nenhum santo, mas ele é “apenas” um fornecedor facilitador diante de um sistema falho. Talvez menos importante ou no máximo igual ao que foi Marcos Valério para o mensalão.
Antonio Gelfusa Junior é diretor de marketing do SP Grupo de Jornais (SP Jornal, Jornal de Vila Carrão, Jornal do Tatuapé e Jornal de Vila Formosa).