Não existe dor maior do que a perda de um parente querido. Isso é fato. Nesses momentos, a angústia, a fragilidade e o estado emocional encontram-se em frangalhos, sendo necessária a companhia de pessoas de grande confiança e proximidade com os filhos, esposa, pais, enfim, todos os parentes próximos de quem morreu.
Não obstante à dor destas pessoas, é necessária uma série de providências que vão desde a escolha da roupa do finado até a compra de todo “conjunto” do velório, que inclui caixão, rosas, tratamento químico para o corpo, velas, coroas de flores e sem contar serviço de buffet, até as taxas de sepultamento e de exumação – caso seja necessário desenterrar outro parente para reaproveitamento do espaço.
Ou seja, nem na morte, um dos momentos mais frágeis do ser humano, as contas cessam. Partindo desse princípio, tornam-se compreensíveis algumas das queixas recebidas no jornal esta semana, com relação à cobrança de estacionamento que passou a valer desde o dia 20 de maio, no Cemitério Vila Formosa 1 e 2.
A taxa é de 12 reais a primeira hora e 20 reais a diária. Dona Madalena, que visitou o local esta semana, foi pega de surpresa: “Eu quis visitar, como de costume, o túmulo de minha mãe e qual não foi o meu espanto, ao chegar no local e me cobrarem 12? Eu não tinha e fui obrigada a dar meia volta e retornar para minha casa, deixando para outra oportunidade a minha visita. Acredito que isso é um absurdo, tendo em vista a quantidade de tributos que já pagamos para enterrar nossos parentes, além das taxas de administração do local”.
Qual a finalidade?
Estima-se que, diariamente, cerca de 1,5 mil pessoas visitem o Cemitério Vila Formosa. A prática não é recorrente apenas no Vila Formosa, sendo já aplicada há alguns meses também no cemitério Quarta Parada, no Belenzinho.
Segundo André Luiz, que recentemente sepultou seu pai no cemitério, a administração local já cobra uma taxa de manutenção, sendo a prática considerada um tanto imoral: “Eu precisei pagar o estacionamento, sendo que estava sepultando meu pai. E todos os parentes que aqui chegaram, independente da dor, também foram pegos de surpresa. Qual a finalidade de mais esta taxa em um momento onde menos se deveria pensar em dinheiro?”
Procurada pela reportagem, a Consolare, empresa que administra os cemitérios Quarta- Parada e Vila Formosa, afirmou que o intuito das taxas de estacionamento é o de implementar melhorias nessas áreas públicas, principalmente no que diz respeito à segurança local, uma vez que são recorrentes os casos de assaltos e abordagens suspeitas:
“A Consolare visa aumentar o conforto dos visitantes nessas horas em que mais precisam estar seguros e tranquilos em seus momentos de luto. Uma das intenções é a de implementar vigilância redobrada nestas áreas tão desprotegidas, justamente para que as pessoas não sofram com assaltos e outros riscos em momentos de grande dor”, afirma a assessoria.
A Consolare administra também os cemitérios Consolação, Santana, Tremembé e Vila Mariana, além do Quarta-Parada e do Vila Formosa 1 e 2. Contudo, apenas os dois últimos passaram a contar com cobrança de taxa nos estacionamentos.
A empresa afirma: “Além de melhorar a segurança local, também prevemos uma melhoria significativa dentro do Vila Formosa, com a implementação de jazigos de concreto com gavetas nos enterros, acabando com a famosa ‘cova rasa’. Ou seja, os caixões não mais serão enterrados apenas na terra, dando aquela impressão de que a pessoa esteja sendo enterrada quase que como uma indigente, mas sim, dentro de uma caixa de concreto, como ocorre em outros cemitérios da cidade. O intuito é fazer do cemitério Vila Formosa, um modelo de cemitério Park, proporcionando mais conforto e dignidade a quem tem seus parentes ali descansando”.
Segundo Maurício Costa, CEO da Consolare: “Este novo procedimento foi implementado inicialmente na Quadra 76 e marca a interrupção do sepultamento direto na terra que causava um grande impacto para as famílias enlutadas. Estamos muito felizes com esse avanço. Trata-se de um ganho em dignidade para as famílias e também sustentabilidade para o município”, conclui.
Outras melhorias
O Cemitério Vila Formosa é o maior da América Latina, com uma área de 763.175 m², 50 quadras e cerca de 5 mil ossários. As obras de sepultamento, neste momento, já avançaram para a quadra 78, que está sendo finalizada neste mesmo modelo, seguida pela quadra 54.
Além desta mudança, a empresa afirma que as lápides também serão padronizadas, as áreas dos velórios e dos banheiros serão revitalizados, a rede elétrica e hidráulica será trocada e uma agência funerária será implantada no local.
A Consolare será responsável pela administração deste e dos demais cemitérios pelos próximos 25 anos. A empresa estuda a viabilidade de um período de tolerância, a fim de auxiliar quem não permaneça muito tempo no local. Também não informou quais outros cemitérios de sua administração serão os próximos a adotarem estas mudanças.
Reportagem: Fernando Aires. Foto: Divulgação.
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