Estudante de gestão ambiental faz viagem pelo litoral e relata experiência.
Incrível ver outra realidade daquela que estamos habituados em São Paulo. Ver pessoas que não possuem chuveiro elétrico e vivem como meus avós viviam na primeira metade do século XX. Substituindo a energia, painéis solares tentam suprir essa necessidade daquela comunidade, mas só ajudam com poucos aparelhos, como a TV e algumas luzes fraquinhas à noite. Espantoso saber que alguns nativos mais antigos preferiam a vida sem a tal eletricidade, pois todos se encontravam de noite para ficar conversando até tarde, e agora, com a TV, isso não ocorre mais. Para piorar a vida destes habitantes, há 25 anos, as leis ambientais chegaram através do IBAMA e da Força Verde e foi restringido a exploração da floresta, a pesca e até agricultura de subsistência. Práticas que há séculos já eram feitas de maneiras sustentáveis. Eles sempre souberam o que podiam pescar em determinadas épocas, já conheciam quando podiam caçar caranguejos, quais madeiras aproveitarem, como e aonde cortá-las para evitar a extinção, e assim vai. Durante séculos mantiveram a tradição da relação com respeito pela natureza, e agora, já não podem nem plantar para subsistência. Assim, ficaram desocupados e, segundo relatos, muitos que vão para a cidade se tornam usuários de drogas e moram em condições precárias. Assim, houve o empobrecimento da cultura e da alimentação. Hoje, a pequena renda é extraída basicamente da pesca e da criação de mariscos. Como estudante, não posso nem quero desprezar os benefícios da tecnologia como forma de qualidade de vida, mas acredito que temos que reavaliar valores e mudar paradigmas para promover a verdadeira qualidade de vida e felicidade.
Reportagem: Vinicius Stoqui. Foto: Divulgação.