Educação, amor e responsabilidade: três conceitos de grande profundidade e abrangência, extremamente importantes para a humanidade. Conceitos estes, aparentemente distintos entre si, que ao serem avaliados conjuntamente, com certo rigor, constituem uma tríade a ser seguida por todos nós. Pelo menos, esta é minha percepção.
Gosto de reiterar que o conceito de Educação muito difere do Ensino, pois considero a Educação como um processo inerente ao desenvolvimento da pessoa humana, que tem o Ensino como um de seus integrantes. A Educação é um conjunto de ações, do qual o Ensino acaba se destacando, pelo próprio conceito, explicado a partir de sua etimologia. Ensino, vem do Latim, Insignare, deixar sinais, marcas, enquanto Educar, do mesmo Latim, Educare, enseja uma condução, uma condução para fora, para o mundo. Por isso, entendo a Educação como algo bem maior que Ensino.
Ensinar movimentos de ginástica, não é o mesmo que Educação Física; ensinar conceitos da música, não é o mesmo que Educação Musical, e assim por diante. Portanto, a Educação de um ser humano se utiliza do ensino para promover seu desenvolvimento, para formá-lo, para dar-lhe forma de cidadão, de alguém capaz de se auto conduzir e de conduzir seu próximo, no contexto social da palavra.
Conjuntamente com a Educação existem o amor e a responsabilidade. Aquele que educa certa pessoa, deve fazê-lo de forma natural, espontânea e incondicional, deve amar esta pessoa. Além disto, deve saber que ao educar alguém, aquele que educa, portanto, o educador, deve estar investido de autoridade e responsabilidade, pois, em tese, praticamente, não tem o direito de errar. Uma falha nas etapas da educação de alguém, poderá implicar em consequências irreversíveis, nem sempre de fácil superação ou assimilação. Assim, o Educador deve amar, com responsabilidade.
Os gregos antigos destacavam vários vocábulos que podem ser todos traduzidos por amor, talvez, por certa limitação de nossa língua em não ter vocábulos específicos, que poderiam de igual modo que o Grego, identificar os distintos conceitos. Dentre estes, podemos citar Ágape, Storgé, Philia e Eros.
Quanto à Língua Portuguesa, não serei tão rigoroso, afinal de contas, uma língua evolui de acordo com a cultura do povo que a fala, por isso, penso que existem palavras em nosso idioma, que podem até não externar os respectivos sentimentos sugeridos pela cultura grega antiga, mas, que certamente carregam um conceito a ser assimilado por cada um de nós, de sentimento pessoal. Deste modo, cada indivíduo poderá assimilar os respectivos conceitos, de acordo com suas próprias características culturais.
Ágape refere-se ao amor incondicional, àquele sentimento que externamos com relação a outrem, despojado de interesses, do anseio pela reciprocidade. Ágape, portanto, é o amor incondicional: amamos, porque amamos, independentemente de sermos correspondidos, sem espera pela recompensa.
Storgé é entendido como o amor fraternal, sentido entre pessoas, membros de uma mesma família, ou de certa comunidade, por exemplo religiosa. Este “amor” não exclui a possibilidade do ágape, mas é diferente dele, pois pode-se pensar na reciprocidade. Em termos psicológicos, nos sentimos bem entre pessoas próximas, sabendo que somos queridos por elas. Este amor pode, portanto, ser mais intenso ou menos intenso, dependendo da interação entre as pessoas.
Philia, por sua vez, refere-se a “gosto”, a um interesse entre pessoas, entre amigos. Philia se externa por atos conjuntos entre pessoas ou grupos que possuem afinidades, e podem levar a sociedades com o objetivo de desenvolverem atividades agradáveis a todos os integrantes, os quais se sentirão bem ao desenvolvê-las em harmonia. Assim nasceram as instituições filantrópicas, as orquestras filarmônicas e mesmo a filosofia. Este amor nem sempre é incondicional. De igual modo ao Storgé, Philia pode aumentar ou diminuir, de acordo com a ampliação ou redução destas afinidades.
Por fim, Eros se refere à apreciação física entre pessoas, romântica e até sexualmente. É com a assimilação do Eros que se utilizam expressões como “fazer amor”, “amo aquela mulher” ou “amo aquele homem”, dentre outras. O importante é saber que, embora o Eros não exclua necessariamente o Ágape, Storgé ou Philia, certamente, nem sempre os contempla. Eros pode ser apenas o amor como atração física.
Diante desta breve reflexão, vemos que a Educação, por ser uma ação incondicional, deve ser praticada mediante o Ágape. Os Educadores, sejam eles os pais, os professores, os ministros religiosos ou outros integrantes da sociedade, que se dispõe à ela, devem amar seus educandos incondicionalmente, devem envidar esforços incomensuráveis, que, como disse no início, vão além do ensino. Certa pessoa que não ama seu educando, mediante o Ágape, não é um Educador. Talvez, possa ser no máximo, como dizia a pesquisadora argentina Alícia Fernández (1946-2015), um “Ensinante”. Mesmo assim, o “Ensinante” entendido como aquele que ensinou, a partir do momento no qual se confirme a aprendizagem.
Assim, podemos entender que Educação com Amor deve ser uma redundância associada ao conceito de Responsabilidade, ou, de outro modo, é impossível entender um Educador irresponsável. Não se educa uma nação ou mesmo uma pessoa apenas com retórica, mas, com ações de amor e responsabilidade. O Educador deve ser o bom exemplo, o paradigma a ser seguido, ele educa continuamente, a todo instante, na mesma linha anunciada por Francisco de Assis, entre o final do século XII e início do século XIII: “Pregue o tempo todo, se necessário, use palavras”.
* Ítalo Francisco Curcio é doutor e pós-doutor em Educação. Coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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