Músico fala de censura e projetos.

Ainda no camarim, minutos antes do show que aconteceu recentemente no Shopping Metrô Tatuapé, Evandro Mesquita concedeu uma entrevista exclusiva onde expôs um pouco mais o gosto pelo rock clássico, sua ex banda Blitz, a censura dos anos 80 e a história da nova banda que será uma das atrações do “Rock in Rio”. Sobre como iniciou o projeto da nova banda, o cantor responde: “Este gosto pela música é de muito tempo, essa nossa amizade é que é recente, tem só uns 35, 40 anos (risos). Essa paixão vem de quando começamos a tocar sem grandes pretensões. Na época, o Bruce era dono de uma pousada em Búzios e ali era o nosso ponto de encontro, tinha sempre microfone, amplificador, instrumentos, então rolava esses sons de músicas e grupos que a gente gostava, mas que não se ouvia nas rádios. A gente conhecia estes sucessos porque tinha amigos que iam lá fora, acompanhavam os shows, lançamentos e então traziam pra gente os LP’s. Era assim que a gente ouvia e saia tocando. Passou este tempo todo e nós sentimos que as chamas dessas fogueiras todas tinham que permanecer acesas e o jeito de fazer isso era continuar tocando estes clássicos, que passaram pelas nossas vidas, marcaram momentos e claro, acima de tudo, resgatar o prazer de tocar sem grandes expectativas”, afirmou. Sobre as apresentações e o gosto pelos clássicos, ele diz: “Além de tocar na TV, nos apresentamos na abertura do show do “Men at Work” no Rio. Meu amigo, de bairro em bairro, de cidade em cidade, nós ainda vamos escravizar as massas com o nosso rock and roll (risos). Nós gostamos e vamos tocar muito Pink Floyd, Led Zeppelin, The Doors, Bob Dylan e Bob Marley. Eu particularmente não consigo definir um gosto especial, mas curto muito Led Zeppelin, Stones, Bob Dylan. É uma coleção de “super-heróis” que fizeram parte da nossa geração e que nós acompanhávamos porque tínhamos uma sintonia com o que rolava de bom lá fora, já que a gente vivia numa ditadura, as informações demoravam muito pra chegar e quando chegavam estavam truncadas, então, no ‘underground’, tinha esse movimento forte de gente que trocava informações e queria curtir coisas novas e fazer coisas novas sem ninguém dizer se podia ou não”, disse o músico. Sobre a pressão na época da Blitz, ele afirma: “Era forte, e nós fomos uma banda que trouxe uma proposta diferente de música para as emissoras. Nós abrimos espaço para outras bandas, e foi no meio desse cenário todo que nasceu a Blitz, as rádios só tocavam Roberto Carlos, Tom Jobim, Moraes Moreira e Chico. Rock mesmo só se fosse de fora e com artista de muito nome e peso, tipo Elvis. Lembro que em 82, o primeiro disco da Blitz teve duas músicas censuradas e que foram inutilizadas pela gravadora: ‘Ela Quer Morar Comigo Na Lua’ e ‘Cruel Cruel Esquizo frenético Blues’. Curioso é que já em inglês não houve tanto problema, tinha até palavrão e a gente continuava com a mesma pegada (risos). Era muito legal manter isso vivo. Sem contar vários outros problemas, né, tipo shows interrompidos, no Circo Voador (RJ), às vezes a gente começava a tocar e quando via, tinha um PM que mandava desligar tudo, porque tinha reclamação de edifícios do lado, uma loucura. A gente tentava enrolar o cara, pedia pra tocar mais uma ou duas, era por prazer mesmo. As vezes dava certo”. Sobre o fim da banda o cantor assegura: “A Blitz chegou ao seu momento, já tinha marcado a sua época, sua geração e acho que o mais importante, foi o conceito que deixou, porque naquele tempo, as rádio só tocavam os clássicos da MPB, que eram artistas maravilhosos, como Chico Buarque, Vinícius, enfim, mas acontece que a nossa turma não tinha voz e nós tínhamos ideias próprias e o melhor, gente que queria isso. A Blitz fazendo um enorme sucesso, só com uma música ‘Você Não Soube Me Amar’ deu a largada à uma corrida das gravadoras em busca cada uma da sua ‘Blitz’, e foi assim que outras bandas de outros estados, outras levadas e outros sotaques despontaram. A respeito do mercado atual e das bandas atuais, Evandro acredita que artistas antigos ainda merecem mais destaque. “O mercado anda por fora, atira pra qualquer lado e as vezes, a novidade da semana não era pra ser a melhor opção, você tem artistas antigos que estão com uma super ideia, mas por serem de outra geração são deixados de lado, essa busca da ‘mídia antropofágica’ que tem que divulgar a novidade da semana, acaba menosprezando o bom artista, eu acho”. Questionado se um dia os sucessos desta geração permanecerão tão atuais como as de outras, Evandro responde: “O que é bom não perde espaço. Essa é que é a verdade. Tem coisa que estoura, é aquela loucura, mas depois some. Ninguém se lembra. O que é lançado agora, o tempo vai dizer. Mas acho, por exemplo, que esse som que curtimos e que nos trouxe até aqui hoje, nunca, jamais perderá o seu espaço, nem deixará de ser atual. Mesmo com todo o impedimento da minha época, hoje, este som está aí no radinho de toda galera, de todo garotão e garotinha com 20 e poucosanos. E acho que será assim por muito tempo”, concluiu.

Reportagem: Fernando Aires. Foto: Divulgação.