“É o momento da Zona Leste aproveitar e crescer” Frase de maior efeito na entrevista concedida à Ajorleste por um homem que já foi ministro, embaixador, secretário estadual e secretário municipal.
Andrea Matarazzo, atualmente vereador da cidade de São Paulo, um dos mais bem votados (117.6 mil votos) recebeu a diretoria da Ajorleste – Associação de Jornais da Zona Leste – e, após uma conversa informal, sobre vários assuntos, com ênfase para a política, concedeu rápida entrevista a qual destacamos a seguir.
Com a experiência que tem como ministro, embaixador, Secretaria das Subprefeituras e Secretaria da Cultura, o senhor foi candidato a vereador com um objetivo específico, uma proposta maior, por um projeto de lei excepcional, marcante?
Acho que São Paulo tem leis demais. O que precisa é as leis serem cumpridas. Eu tenho alguns projetos interessantes, alguns já protocolados, como o que você acerta as calçadas, que passa a responsabilidade para o poder público, um projeto que facilita a poda de árvores, por exemplo: quem já tentou solicitar uma poda de árvores sabe é uma maratona de dois anos. Uma lei que facilita e reduz para no máximo de três meses.
Um projeto que elimina a cobrança de ISS dos taxi, que é uma bobagem, que trata de forma diferenciada cooperativas e autônomos. É uma série de projetos de leis e de modernização de leis, inclusive muitas que existem e que estão obsoletas, antigas e que não servem mais para a cidade.
O que eu acho que precisa e é o projeto principal é o Plano Diretor da Cidade. Esse é o maior projeto que eu tenho, que prevê a regularização fundiária da cidade.
Tornar regular todas essas áreas ocupadas há mais de 40, 50 anos. Áreas que eram de mananciais, condomínios, loteamentos clandestinos, que você precisa regularizar para poder proporcionar e estimular a economia local , gerar empregos e evitar que as pessoas tenham que se deslocar todos os dias em viagens que são um suplício para todo mundo de duas, duas horas e meia para ir e mais o mesmo tempo para voltar ao trabalho.
Eu fiz o trajeto da Cidade Tiradentes, Parque Dom Pedro, foram duas horas e meia em um ônibus com qualidade abaixo da crítica, com câmbio mecânico, dando solavancos, sem ar condicionado, andando que nem uma serpentina, dando voltas por todos lados, 72 paradas, permanentemente lotado. Isso não é humano.
As pessoas esperam o ônibus 45 minutos debaixo de sol e chuva. Isso não é para uma cidade do tamanho de São Paulo. Eu critico não somente esse governo, mas todos os outros anteriores.
Recentemente o senhor promoveu uma audiência pública sobre calçadas. O senhor que foi secretário das Subprefeituras em São Paulo discorda dessas mudanças apresentadas em relação aos passeios públicos?
Até concordo, mas a lei das calçadas o que estão fazendo é em relação ao problema das multas, essas que foram, aplicadas no ano passado e a questão para o futuro é não ter mais multas, pois as calçadas ao meu ver é a via pública do pedestre, da mesma forma que a rua, o asfalto é a via pública dos automóveis.
Portanto quem tem que ter responsabilidade sobre as calçadas é a própria prefeitura. Da mesma forma que ela faz as ruas, avenidas, corredores de ônibus e ciclovias, tem de fazer as calçadas, que é a única forma de você ter as calçadas com a mesma especificação técnica, com a mesma padronização, que é fundamental para que elas sejam acessíveis.
Por outro lado, como você vai exigir que imóveis que são isentos de IPTU façam as calçadas, como por exemplo em Cidade Tiradentes, onde 80% dos imóveis não têm escritura.
Calçada que tem de fazer é a prefeitura para que a cidade seja acessível e para que as pessoas possam pelo menos caminhar.
Essa é a minha posição bastante clara. Até porque, ninguém sai na porta de casa quebrando a própria calçada. Quem quebra calçada normalmente, ou são as concessionárias de serviço público ou é o sujeito que estacionou o carro em cima da calçada ou é a própria prefeitura quando planta uma árvore e essa cresce a raiz e estoura a calçada.
Como o munícipe vai arrumar a calçada sem tirar a árvore? Só pode tirar a árvore é a própria prefeitura e portanto a meu ver quem tem que fazer e cuidar das calçadas é a prefeitura.
Como vereador o senhor não poderia apresentar um projeto e criar uma lei para ter um Disk Calçada, um telefone especifico para reclamar de passeio público, a exemplo do que acontece em Belo Horizonte?
Isso é uma alternativa que já deveria ter feito. Eu preferi fazer um Projeto de Lei que passa a responsabilidade das calçadas para a Prefeitura, que está tramitando aqui na Câmara e aí você resolve definitivamente esse problema.
Ainda sobre as calçadas, existem vários bairros completamente urbanizados onde as calçadas são bem irregulares, prejudicando e até impedindo de forma dramática a acessibilidade. Você pensou em incluir esses locais no projeto?
– Todas as calçadas seriam de responsabilidade da prefeitura, inclusive as reformas, para tornar acessíveis aquelas que não são. Você vai em muitos lugares onde as ruas que tem declive, as ruas em descida, por exemplo.
A rua é lisa, mas a calçada tem degrau, o que é um absurdo, porque as pessoas mais velhas, as pessoas com algum tipo de deficiência não conseguem andar. Então, todas as calçadas tem de ser de responsabilidade da prefeitura, se não é isso, como atualmente é de responsabilidade do proprietário do imóvel ele faz do jeito que quer e normalmente faz de um jeito que as pessoas não conseguem caminhar.
Cem dias de governo Fernando Haddad, como o senhor avalia essa administração?
– Eu avalio que são cem dias sem administração. Muita propaganda, muito falatório, mas ações concretas na verdade eu não vi nenhuma. Não tem nada que fale, uma obra nova, uma ideia nova, uma coisa acontecendo de positivo. O que tenho visto é muito falatório, muito blá, blá, blá e inclusive não tenho visto o prefeito.
Onde estava o prefeito nos dias de chuva por exemplo, que São Paulo estava inteira alagada? Das 730 promessas feitas na campanha foram transformadas em um plano de metas, de quase 100 metas, que não são exatamente metas.
O que quero ver é ele fazer, quero ver é a prefeitura trabalhar, tapar buraco, retirar árvores em risco, arrumar asfalto, fazer pontes que precisa, travessia de córregos, fazer calçadas, iluminar as ruas. Isso é tocar a prefeitura, não ficar fazendo discursos sociológicos.
O metro, monotrilho vai chegar em Cidade Tiradentes?
O metro através do monotrilho vai chegar, mas você não vai fazer todo o transporte público em monotrilho. Ônibus já existe. Temos seis empresas de ônibus em São Paulo. O que tem de fazer é dar um aperto neles para melhorar a qualidade do transporte público. Os perueiros também.
Hoje, perueiros virou uma baderna na cidade, no transporte, eles precisam ser regularizados, organizados e modernizados. Dar conforto aos passageiros. Eles prestam serviço público e deve ter qualidade mínima. O povo paga por isso.
Abrir o mercado do transporte público não beneficiaria?
Tem de disputar concessão. Isso é assim no mundo inteiro. Tem de exigir qualidade, com especificação mínima de qualidade do serviço, com pena de perder a concessão.
Sobre idoso, o que o senhor como vereador pode fazer de concreto para essa parcela crescente da população?
O que precisa fazer é uma política pública para a terceira idade. Eu quando secretário fiz as primeiras academias para a melhor idade da cidade. Isso eu aprendi na Itália, quando morei lá e vi. Aqui a gente está acostumado com entidades voltadas com programas focados somente para as crianças, o que está corretíssimo.
Quase que uma entidade por criança. Estamos esquecendo que o país está envelhecendo. Na Itália tem um idoso para cada habitante. No Brasil a população está envelhecendo, é fundamental que tenhamos políticas públicas para os idosos.
Você continua a fazer gestões sobre cultura, em contato com o Governo do Estado?
A Cultura, e aí vamos falar em relação especificamente da Zona Leste. A Zona Leste tem uma tradição e produção cultural muito grande. Hoje a atividade cultural é uma grande fonte geradora de renda para as pessoas. Você precisa sistematizar aquilo e organizar. A Fábrica de Cultura tem muito esse papel.
Capacita melhor essas pessoas dando suporte para a organização, que a Secretaria de Cultura tem de dar também e daí vai criar artistas, iluminadores, cenógrafos, produtores culturais, enfim é uma atividade econômica da chamada economia criativa que gera renda, gera ocupação em grande escala e transforma as pessoas, que a coisa mais importante.
Eleição do Diretório Municipal do PSDB. A nova composição tem uma visão mais ampla, uma proximidade maior com o povo, uma proposta melhor? A pergunta formulada para Andrea Matarazzo e Adolfo Quintas que estava também presente à entrevista.
Não, ao contrário. A nova direção é muito parcial. O PSDB Municipal passou a ser um partido de três secretários que têm como objetivo as suas candidaturas próprias.
Hoje presidido por um ex-deputado de Botucatu, que perdeu eleição Então eu acredito que o partido terá grande dificuldade de conseguir dialogar com a cidade, que é o fundamental e mais ainda e principalmente de ampliar os seus diretórios zonais, que isso é uma ideia do Adolfo Quintas, de criar dentro dos zonais, postos avançados, núcleos de bairro, porque a cidade é muito grande e o PSDB precisa ter interlocução em todos os bairros.
Eu acredito que o partido precisaria estar focado exclusivamente nisso, para se preparar na eleição do Geraldo Alckmin, no ano que vem e depois sim começar se preparar para a eleição da prefeitura. A composição atual, eu não reconheço como a do nosso PSDB.
Eu retirei a minha candidatura para não ser derrotado. Concorrer com alguém do partido, seria democrático. Agora para mim seria óbvio que seria derrotado por três Secretarias: do Meio Ambiente, de Planejamento e de Energia que estavam pressionando a militância a votar no outro candidato.
O fundamental é que o partido na Capital tem de ter forte influência dos vereadores, que conhecem a cidade.
Resposta de Adolfo Quintas – Eu sempre defendi que o PSDB fosse um partido de massa, e até agora ainda não consegui fazer. É um absurdo que um membro do interior venha dirigir o partido na Capital. Isso com a permissão e aval de políticos importantes eleitos aqui na capital.
Nós temos pessoas com vontade política, com ideais, e altamente capacitados da Capital para dirigir esse partido e trouxeram pessoa de fora que não conhece a cidade, que não tem a menor intenção de buscar essa qualidade política. Uma pessoa que foi até derrotado, que não tem intenção promover um crescimento do partido. A história está aí. O PMDB até hoje é grande por conta disso.
As raízes criadas pelo partido no tempo de Mário Covas, Franco Montoro, Orestes Quércia. Mauro Borges, Avanir Duram Galhardo. Criadas pela proximidade, pelo contado e compromisso com o povo.
Aparentemente estão querendo acabar com o PSDB aqui na Capital, pois são pessoas que não têm nada a ver, que não tem preocupação de promover benefício social e as metas do partido.
Nesse contexto, o que vocês pretende para fortalecer o partido?
O partido se fortalece através das pessoas. Pode ser institucionalmente ou não. Quem tem os votos é o Adolfo Quintas, o Gilson Barreto, a Patrícia Bezerra, o Andrea Matarazzo, o Claudinho. Enfim, os votos são das pessoas, independente da gestão. A direção do Júlio Semeghini foi um desastre e a sequência não será diferente.
Vamos continuar trabalhando, avançando, com a proposta de melhorias das condições de vida da cidade de São Paulo. Elegemos uma bancada de nove vereadores.
Um espaço aberto para fazer explanação, para falar o que o senhor quiser.
– Administrar uma cidade do porte de São Paulo é preciso fazer um governo de milhares de pequenas obras de interesse local e algumas grandes obras de interesse geral.
Tenho convicção de quem conhece o que precisa em um determinado bairro é quem mora ou quem trabalha naquele lugar. Os projetos e propostas tem de vir originalmente da população.
As subprefeituras tem de ouvir a população. A Zona Leste tem de aproveitar esse momento. Pois é o momento dela. É o momento da Zona Leste aproveitar e crescer. E continuar crescendo.
Tem de cobrar um novo Plano Diretor e recursos necessários da prefeitura, para desamarrar os investimentos que têm previstos para lá. O zoneamento é um dos problemas que a Zona Leste tem.
Entrevista: Ajorleste. Foto: Divulgação.