Quando em 781, o monge inglês beneditino, poeta, professor e sacerdote assinou as 7 artes liberais: o trivium, gramática, lógica e retórica; e o quadrivium, aritmética, geometria, astronomia, e a música, ele nos abriu espaço para o cinema, e provavelmente para uma oitava: a Gastronomia.
Os irmãos franceses Clóvis e Auguste Lumière, respectivamente um físico e um químico são oficialmente os criadores do cinema em 1895, que felizmente sempre utilizou-se da alimentação para refletir os acontecimentos ao redor da mesa e da sociedade, como em 1925 no filme Em busca do ouro, no qual Chaplin, morto de fome come suas próprias botas.
A comida tem servido no cinema para celebrar, reunir, seduzir, presentear, matar e explicar-nos seu papel em nossas vidas.
Em Tomates verdes fritos uma enorme panela de caldo esconde os restos de um cadáver. Pode parecer forte, quando em comparação com o delicado filme Como água para chocolate, no qual cozinhar aparece como sinônimo de vida e sensualidade, mas não esconde também as probabilidades da morte.
A melhor associação já vista no cinema aparece no filme baseado na obra de Pablo Neruda, O carteiro. Mario, o carteiro de um escritor exilado aprende a utilizar a insinuação como ferramenta de conquista em Beatriz; na primeira noite em que aparecem juntos, os protagonistas brincam com um ovo, cuja textura, fragilidade e brancura, são símbolos de sensualidade e fecundidade, representando Beatriz, que engravida na primeira noite de amor.
E já que em nossa última conversa falamos sobre comida e sexo, quem não consegue se lembrar da cena de sexo sobre a mesa de uma cozinha cheia de farinha, entre os personagens de Jack Nicholson e Jessica Lange em O carteiro toca sempre duas vezes.
Com amor tudo é possível, é o que dissemos e sempre diremos através de nossas mãos e sentimentos quando preparamos uma comida, e refletido no desenho a Dama e o Vagabundo, Estúdios Disney, essa colocação fica tão evidente quanto em Ratatouille, no qual Remy, um ratinho, comove muitos chefes durões e demonstra o quanto a paixão nos é importante.
Poderia falar por horas a fio sobre cinema e gastronomia, associando filmes com temas nada gastronômicos como Rocky e seus treinos em quartos de boi, ou que criam um aroma diferente no ar, como em A festa de Babete e a felicidade celebrada pela boa comida. Poderíamos falar de nossas tão queridas novelas e minisséries; mas pra que ficar de blábláblá, vamos comer!
Já sabe o que fazer nesse feriado de Páscoa, fora comer chocolate? Anote as dicas e com um bom balde de pipoca coberta de chocolate, não deixe de assistir os filmes. Boa sessão pipoca!
Joyce Galvão, é chef de cozinha e Engenheira de alimentos. Professora, pesquisadora de gastronomia, palestrante e colunista do portal SP Jornal.