É só voltar às telinhas o programa Big Brother Brasil que uma enxurrada de comentários contra a programação inicia na internet, nos bares e nos lares dos brasileiros. Há aqueles que criticam até mesmo o Pedro Bial, que por ter um passado jornalístico intenso com cobertura de grandes acontecimentos, estaria totalmente estranho no papel de apresentador e equivocado chamando de heróis os participantes do jogo.
Porém, todo conteúdo que é ruim, é bom também para se tirar parâmetros. O Big Brother é um programa que serve para analisar muita coisa. Comportamento humano, níveis de futilidade, valores de criação de indivíduos em família, consumo de informação do povo brasileiro, credibilidade ou não da emissora que organiza o conteúdo, publicidades e ações de marketing caríssimas e inteligentes que atuam com games perante o jogo, e finalmente, padrões de moda que muitos que estão no jogo seguem a sua maneira.
Fugir da questão Big Brother dizendo “eu não assisto” é muito fácil. Ainda mais quando as pessoas têm medo de assumir que gostam na frente dos outros, outros esses que adoram discursos prontos! Os mesmos que não gostam de ouvir Pedro Bial chamar BBBs de heróis, são os primeiros a adorar e gritar nomes de jogadores de futebol com apelidos de Imperador, Gladiador e Fenômeno. E o que eles fazem de diferente além de serem supervalorizados, não darem exemplos bons e terem super-salários? São humanos e tem quem goste! Ponto! Eu não gosto do programa. Mas também não desgosto.
Quando passa, eu assisto se posso. Mas assisto também telejornais, leio revista, ouço rádio e procuro informações de diversos segmentos, programas em diversas mídias. O que é aparentemente estranho e deve-se questionar, é o porque de um programa com este tipo de programação, voltada ao entretenimento, continuar muito tempo no ar, fazendo sucesso, se pagando na primeira edição de paredão e continuar roubando a cena em horário nobre. Muitos países em que o programa foi exibido, as emissoras mostravam as cenas somente na madrugada, e raramente se chegou a tantas edições. Muitas vezes também criticamos nós brasileiros de um modo em geral.
Eu mesmo faço isso aqui neste espaço. Gostaríamos, todos nós, que a população reividicasse mais seus direitos, fosse menos passiva, se dedicasse mais para política como se dedica ao futebol, ou mesmo gastasse menos tempo com programas que não agregam valores. Mas ao mesmo tempo, porque o brasileiro não pode escolher aquilo que quer assistir? Não é assim com relação ao comportamento da moda? Sexual? Político? Religioso? Se o país é livre e democrático – que muitas vezes sabemos que não é – porque cada um não pode escolher sua forma de se entreter? Vídeo, novela, futebol e por aí vai, faz parte da rotina de muita gente. E quem não gosta procura outras coisas para fazer e se entreter não é mesmo ? Quem pensa o contrário, ou que deve escolher para o outro o que se deve assistir, dizer ou comportar, pode não perceber, mas transborda preconceito na pele.
Nós pagamos muitos impostos, caríssimos inclusive, abusivos acima de tudo, e temos direito de assistir e nos divertir com aquilo que é legal para nós. Cada um pensa de uma maneira e ainda bem que não somos iguais. O mundo seria muito chato assim! O que talvez seja alienação é alguém somente assistir este tipo de programa. Viver só nesse mundo de Big Brother e programas de fofocas com certeza não vai fazer de você um ser humano melhor, mas se este é um desejo seu e o deixa feliz, porque não? São muitos os intelectuais que nos dizem o que devemos ou não fazer. O que devemos comprar ou não e etc. E estes, muitas vezes, são os primeiros a praticar atos ilícitos e atitudes anti-éticas perante às leis do pais.
E eu não estou falando de políticos que adoram um desvio promíscuo. Esta semana, um sujeito chamado Adilson Mello, que trabalha como segurança no colégio Brasília, viveu seu dia de BBB. Segundo Garcia Telles, relações públicas do jornal, que presenciou a situação, Adilson salvou uma família que estava em um carro pegando fogo em frente ao Colégio. Sua atitude humana impediu uma tragédia. Sua atitude de grande pessoa não permitiu uma grande explosão! Parabéns Adilson! O que Adilson tem de relação com o BBB? Ele é o “Bom Bombeiro do Brasília”!
Trocadilho que serve para mostrar o verdadeiro herói, assim como outros brasileiros de nosso dia-a-dia que não estão no Big Brother, mas que são humanos e também tem direito as suas livres escolhas! Dignos, inclusive, de serem chamados de heróis em rede nacional por Pedro Bial ou qualquer outro apresentador!
Antonio Gelfusa Junior é diretor de marketing do SP Grupo de Jornais (SP Jornal, Jornal de Vila Carrão, Jornal do Tatuapé e Jornal de Vila Formosa).