Na área de tecnologia às vezes surgem ideias exóticas, muitas vezes vistas com ceticismo, que podem ou não prosperar. No início, poucos acreditaram nos celulares, mas eles acabaram por mudar nossa sociedade.
Outras não prosperam, apesar de serem tecnicamente viáveis — é o caso do Projeto Loon, desenvolvido pela X, uma subsidiária da Alphabet, empresa-mãe do Google. A ideia era usar balões gigantes para levar a internet a regiões remotas. Em janeiro de 2021, o projeto foi encerrado por ter sido considerado insustentável como modelo de negócio, apesar de ter sido implementado com sucesso, como ferramenta de socorro, em algumas áreas afetadas por catástrofes.
Agora, fala-se em algo ainda mais estranho: usar pipas para movimentar navios de carga, economizando combustível e reduzindo emissões de carbono — é quase um retorno à era dos veleiros. Quem vem desenvolvendo a ideia é a Airseas uma empresa criada em 2016 que é uma spin-off da Airbus; sua criação é a Seawing, uma asa capaz de rebocar um navio.
Voando a mais de 200 metros acima do mar, a Seawing é uma asa de mil metros quadrados projetada para aproveitar a força do vento para impulsionar o navio, reduzindo o consumo de combustível e as emissões em até 40%. Esse número é relevante, pois 3% de todas as emissões de carbono vem do transporte marítimo.
A Seawing é extremamente sofisticada do ponto de vista tecnológico. Utiliza o conceito de digital twin (gêmeo digital), através do qual uma versão digital da asa é utilizada para controlá-la, usando inteligência artificial. Essa inteligência coleta e analisa dados meteorológicos e do mar em tempo real, usando essas informações para otimizar o desempenho e a segurança do navio e da tripulação.
Ela é também facilmente operada a partir da ponte de comando do navio, não havendo necessidade de treinamento sofisticado para a tripulação: um simples interruptor lança ou recupera a pipa, que se desdobra, opera e se recolhe de forma autônoma.
A primeira Seawing acaba de ser instalada em um cargueiro, o Ville de Bordeaux, fretado pela Airbus e utilizado para transportar partes de aviões entre a França e os Estados Unidos. É uma instalação piloto, sendo que a partir de janeiro de 2022 vão se iniciar as viagens, quando se poderá ter certeza acerca da validade ou não do conceito.
Como se disse, é uma ideia exótica, mas que se funcionar, certamente os negócios e o meio ambiente agradecerão.
* Vivaldo José Breternitz, doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Se você quer conferir outros conteúdos como este aproveite e acesse a home de nosso site.
Foto: Divulgação.