Acho que esse fim de ano está mexendo comigo em todos os sentidos! Além do super cansaço [creio que todos me entendem] as saudades da minha época européia aperta forte; ultimamente vivo me perguntando: quando voltarei a espumar na Espanha?

É, isso mesmo: E-S-P-U-M-A-R. Adoro criar texturas, mexer com os sentidos, descobrir técnicas novas e estar no meio de todo esse burburinho. Alias, amo estar no meio do burburinho [é sempre tão difícil… ], mas também sou alucinada por aprender a fazer aquele arroz soltinho e perfumando [confesso, meu arroz é péssimo], passar o dia fazendo um frangão bem recheado no forno e passar horas conversando com minha avó [é uma terceira… eu adotei ela!] sobre seus tempos de fazenda: o café coado com leite fresquinho, a colheita, a comida feita no fogão a lenha [e isso não era opção]e os peixes de nomes esquisitos e suas técnicas de cocção [que já nem existem mais]. Como amo passar horas ouvindo aquela doce voz me contando sobre uma infância tão distante! Muitas vezes me coloco na história, como se fosse aquela menina que hoje tem um andar cansado e um sorriso tão gostoso no rosto. Ah, e como ela gosta de compartilhar sobre comida comigo. Sou muito feliz ao lado dela…bem feliz!

E me sinto muito feliz quando estou rodeada por comida! Pessoas que conversam sobre comida de uma maneira saborosa e leve, cozinha, panelas, livros e revistas, comida de boteco, de restaurante fino, sabores de descobertas, lembranças e estranhezas. Ah…comida! E porque falo isso? Porque mesmo dando aulas, falando sobre comida, vivendo comida todos os dias de minha vida, parece que nunca estou satisfeita. Sempre quero aprender mais, conhecer mais pessoas, poder falar mais sobre o que penso, sobre o que sinto a respeito da comida e principalmente quero que as pessoas ouçam o que tenho a dizer.

Mas ao mesmo tempo em que desejo tudo isso, por outro sinto as dificuldades da profissão, e muitas vezes caio num buraco e me afasto dessas pessoas que vivo querendo conhecer, das panelas, que ficam brilhando na estante, olhando para mim e pedindo que faça aquele cozidão delicioso; meus livros que eu deixo de ler e meus pensamentos que deixam de pensar em comida. Só que quando tudo isso volta, meu sorriso chega junto, iluminando meu rosto, minha vida e fazendo tudo parecer mais fácil e mais, muito mais gostoso.

Sabe o que seria muito bom? Se a Gastronomia fosse menos inconstante [ou será que sou eu?], se eu pudesse viver comendo bolinhos acompanhados de um bom café lendo as crônicas de escritores gastronômicos que eu adoro e me acabando no leite condensado, como fazia quando era pequena. E sorte a minha, o Natal está chegando e com ele o pudim da minha mãe, os quitutes dos amigos queridos e aquele aroma delicioso de família cozinhando junta a ceia da noite de Natal. É, talvez a vida nem seja tão ruim assim…

E então, o que faz você feliz?

Joyce Galvão,  é chef de cozinha e Engenheira de alimentos.  Professora, pesquisadora de gastronomia, palestrante e colunista do portal SP Jornal.