Pandemia: Fechamento de fronteiras, proibição de voos, cancelamento de eventos, quedas históricas nas bolsas de valores de todo o mundo, alta do dólar, fake news, falta de álcool em gel e máscaras no mercado. Esses são os assuntos que dominam de maneira mais contundente as conversas, debates e noticiários, principalmente após a decretação pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no último dia 11 de março, de pandemia de covid-19, presente em mais de 120 países.
São necessárias e louváveis as medidas adotadas até o momento por autoridades e lideranças brasileiras para desacelerar a escalada da epidemia global. Estas são focadas no combate à disseminação e aos efeitos do novo coronavírus. Entretanto, não pode ser o único alvo. O mercado financeiro desestruturou-se e vemos um cenário de altíssimo risco de contaminação severa do setor produtivo.
De acordo com diversos especialistas, os negócios mais impactados diretamente até o momento relacionam-se às cadeias produtivas do turismo, lazer e alimentação fora do lar. Somam-se a estes, os segmentos eletro eletrônico, mecânico, óleo e gás.
O que fazer?
A título de exemplo do que está acontecendo hoje: um pequeno restaurante passa a servir 30 refeições diárias e não mais as 100 usuais. Com isso, o proprietário reduz as compras no mercado, no hortifruti e nas feiras livres. A consequência é que os produtores rurais e as empresas de alimentos que abastecem esses negócios também veem os pedidos evaporarem. O reajuste chegará à área plantada e ao processamento de alimentos. Sem falar na questão do pessoal ocupado.
Por isso, é grande nossa responsabilidade em encontrar, também de modo rápido, alternativas para minimizar os impactos negativos. Como 98% das empresas brasileiras são de micro e de pequeno porte, empregadoras de quase 50% da mão de obra com carteira assinada, é de se esperar que em seu meio ocorram os maiores danos. Ante tais riscos, cabe ponderar que, neste cenário (de volatilidade do mercado financeiro), ainda há tempo de reverter a situação, agindo de maneira inovadora, contundente e ponderada, para garantir a blindagem dessa significativa parcela do setor produtivo, que hoje soma mais de 15 milhões de empreendimentos em todo o Brasil.
Quais são os indícios?
Da equipe econômica do Governo Federal vêm indícios de combate aos efeitos danosos da pandemia, com adoção de medidas de curto prazo, como a liberação de linhas de crédito produtivo mais baratas dos bancos públicos para pequenas e médias empresas e produtores rurais, mais um corte dos juros básicos e incentivo ao consumo, em especial com injeção de recursos para aposentados, com a liberação da primeira parcela do 13º e possível novo saque do FGTS. Providências nos campos da desoneração tributária, desburocratização e aprovação de outros marcos regulatórios com impacto direto nos pequenos negócios também serão muito bem-vindas.
Nesse sentido, seria essencial a reforma tributária, tão adiada nas últimas décadas, mas imprescindível para o fortalecimento da economia, estímulo aos investimentos e às atividades produtivas. É preciso considerar que a presente pandemia pega o Brasil no justo momento em que o País busca emergir de uma de suas mais graves crises econômicas. Nesse contexto, medidas estruturais, como um novo e adequado sistema de impostos, seriam muito importantes para ampliar nossa competitividade e resgatar a confiança dos empresários.
Assim sendo, os empresários também podem e devem fazer sua parte. Ainda utilizando o mesmo exemplo do pequeno restaurante: o proprietário pode implantar ou reforçar a estratégia de delivery. Compartilhar essa ideia com os “concorrentes”, dividir os custos do serviço de entrega e fazer compras em conjunto, dentre outras possibilidades, são alternativas factíveis. Quem agir desta forma, além de diminuir as chances de fechar no vermelho, ainda estará gerando novas ocupações. Assim, é preciso multiplicar essa ideia pelos milhões de pequenos negócios espalhados em todo Brasil.
Por: Tirso Salles. Foto: Charles Damaceno.
*Tirso de Salles Meirelles é presidente do SEBRAE-SP.
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