Nos últimos 10 anos o número de ingressantes na modalidade EAD quadriplicou e, desde fevereiro de 2022, são mais alunos no modelo à distância em relação aos do presencial.

Essa marca estava prevista para ser atingida apenas em 2025, mas com a pandemia, o processo foi acelerado.

Temos visto uma franca expansão das unidades educacionais transformando –  o que deveríamos chamar de escolas de ensino superior – em polos comerciais de educação à distância.

São muitas marcas de instituições buscando este posicionamento: Anhembi Morumbi, Cruzeiro do Sul, FMU, Estácio, entre outras.

Algumas escolas de menor porte no segmento também disputam esse share digital.

Acontece que muitos desses polos, além de não ter o preparo e infraestrutura para receber público, não contam com a presença de coordenadores pedagógicos ou professores – a tal equipe técnica – na maior parte do tempo.

Isso sem falar que o espaço de uma universidade deve oferecer ao estudante a convivência com outros colegas, interação com demais cursos, desenvolvimento político e civil, identidade de grupo, amadurecimento das relações humanas, entre outras situações que são impossíveis de acontecer – com a profundidade necessária – através de uma tela de computador.

É triste saber que estamos chamando de escola um lugar sem os itens imprescindíveis acima.

Destacadas marcas líderes do cenário educacional também adotaram um modelo híbrido (parte presencial e parte EAD). Uma forma de encaixar um percentual das aulas no formato online, reduzir fluxo de alunos, otimizar custos e escalar o potencial de vendas.

Ninguém gosta de comentar, mas os percentuais de audiência das aulas online são desastrosos.

Os alunos em boa parte das vezes não estudam e fazem avaliações copiando as respostas em uma aba paralela no Google – isso quando o fazem.

Nas especializações EAD o horizonte já é diferente. Essas sim contam com números de melhor performance – até mesmo por conta da idade e a maturidade do indivíduo matriculado.

De qualquer forma, a verdade é que esse modelo atual não consegue entregar educação de qualidade.

E quanto aos docentes neste novo cenário?

Ora, a maioria deles são alocados em condições de remuneração cada vez mais ofensivas, vendendo – numa única vez–  o direito autoral de seus conteúdos para as aulas digitais que podem ser transmitidas para milhares de pessoas.

Quem lucra de verdade são as instituições é claro – que atualmente estão mais preocupadas em abrir capital na bolsa do que entregar um ensino responsável.

O Brasil sempre viveu a febre de empresas “modinha” em nosso modelo econômico volátil.

Já foi a época de ter em cada esquina hamburguerias, temakerias ou mesmo as famosas paleterias mexicanas.

Parece que chegou a vez das “EADerias”!

Devido a falta de estrutura e qualidade nos ambientes digitais e presenciais, fica muito difícil acreditar que o final desta saga será de bonança.

O mais provável é o natural definhamento que já aconteceu com outros segmentos, inclusive.

Historicamente só resistiram a esse tipo de explosão comercial empresas de trabalho sério, onde a qualidade ficou à frente da lucratividade desenfreada.

Nossa educação, que nunca foi das melhores, infelizmente deve assistir – e de camarote – um dos tempos mais tristes na formação de profissionais da história.

* Antonio Gelfusa Junior é publicitário, especialista em educação de ensino superior e professor do SEBRAE-SP.

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Foto: Divulgação.