Tem dias que dá vontade de acordar se sentindo bonita, dar uma boa espreguiçada, enrolar um pouco na cama e acordar para todas as boas energias que pairam no ar. Existem coisas e dias, que sem a gente perceber se tornam uma extensão de nós mesmos, uma pintura íntima do que naquele momento mais desejamos.
Hoje, diferente de todos os meus dias, acordei cedo e tive tempo de viver de verdade meu dia. Vi os pássaros de minha mãe cantando e saltitando de puleiro em puleiro dentro de suas gaiolas, como se me pedissem para ver o Sol da manhã, mesmo sobre aquelas grades que os tiram a liberdade de voar ao invés de saltar; curti o carinho delicado de minha cachorra se espreguiçando em meu colo, e tomei aquele café da manhã bem ceninha de filme: sofá, jornal e uma boa xícara de leite com chocolate.
Tudo isso me fez ter vontade de resolver todas as minhas vontades de um dia perfeito! E foi então que decidi ir caminhando até a feira do meu bairro atrás de um bom pastelzinho de queijo. O pastel não podia estar melhor acompanhado: um caldo de cana geladinho com limão e aquele aroma nostálgico de feira livre, com seus ruídos de vovós carregando seus carrinhos de feira com seus netinhos grudados nas mãos, enquanto mastigam um tomate manchando toda a roupa.
Lembro-me de minha infância dos domingos de feira com meu pai. Lembro ainda de que sempre deixávamos a banca de bananas para a última visita do dia, quando o Sr. Bananeiro me chamava de Xuxinha e me dava uma banana de presente, e eu tímida sempre recusava, com medo de sua barba mal feita e os cabelos despenteados: -Bom dia Xuxinha. Só pra você, eu deixo levar sem pagar! – e me estendia uma banana amarelinha e docinha, que era degustada vergonhosamente enquanto eu estava grudada nos braços de meu pai. Estava com saudades dessa sensação de comer pastel na feira toda terça ou quarta feira, afinal, todo dia é dia de feira! Na escola as terças feiras eram sagradas, e lá ia eu e meu namorado – em início de namoro, devorar 3, 4…5 pastéis! Com direito a queijo, carne, palmito, especial [ah, o pastel especial, sempre um mistério na vida da gente!] e banana. As aulas da tarde era uma atrapalhação de sono que só, e sempre existia o restinho da feira dentro da mochila, recheada de biscoitinhos de leite condensado e polvilho.
Voltei então para casa, eu e minha cachorra, para preparar o jantar do meu pai com todos os ingredientes conseguidos nesse dia de feira, aqueles mesmos de anos atrás. Purê de mandioquinha, escarola refogada, berinjela recheada e assada e coxinha de frango ensopada.
Um momento nostálgico compartilhado com vocês; revivendo as boas coisas da vida, porque afinal, todo dia é dia de feira!
Joyce Galvão, é chef de cozinha e Engenheira de alimentos. Professora, pesquisadora de gastronomia, palestrante e colunista do portal SP Jornal.