Recentemente o cantor Lobão foi entrevistado no programa “The Noite” do SBT, do apresentador Danilo Gentili, e ele discorreu sobre assuntos de sua militância política e posicionamento partidário antigo e atual.

Lobão, para quem não se lembra, participou de um episódio no programa do Faustão, na Rede Globo, em 1989, que marcou sua trajetória para sempre.

Ele fez um depoimento e show a favor de Lula, não somente por acreditar no discurso do então candidato na época, mas, principalmente, por desacreditar em Fernando Collor de Melo, candidato oponente à presidência eleito naquele pleito.

Para quem não se lembra do ocorrido, Lobão fez diversas referências ao candidato enquanto estava ao vivo na Rede Globo. Ele dizia: “Lula lá” e “preferência nacional” algumas vezes durante seus quase 2 minutos de apresentação.

Já no programa de Danilo Gentili Lobão disse que na época até Roberto Marinho, presidente da emissora, ligou em sua casa para falar com seu pai, informando que ele estava banido da emissora por 10 anos.

Naquela época este tipo de referência mais intensa era crime eleitoral, e, de qualquer maneira, é importante lembrar que a Globo também foi acusada de manipular os debates em favor de Collor durante o pleito.

Há 25 anos Lobão assumiu sua postura política de defender o Partido dos Trabalhadores, porém, após o ano de 2002, disse que não se identificou mais com o governo deles. Viu figuras do partido fecharem acordos, se envolver em corrupção e se aliar com figuras clássicas da velha política como o próprio Collor, Sarney e Maluf, por exemplo.

Lobão, como hoje é um ativista assumido de oposição ao PT, ganhou junto com seus aliados o apelido de “reaça” e de “coxinha”, pelo fato de ser “direita”.

Se Lobão de “esquerda” um dia serviu para o PT como defensor acreditando em suas promessas e bandeiras de honestidade, hoje, de fato, não é mais respeitado, até porque contou em sua entrevista as represálias que teve por conta de ser oposição ao atual governo.

É importante lembrar que não há mais governo de direita ou esquerda. As alianças no Brasil são misturadas e fica praticamente impossível identificar a orientação filosófica de cada partido e de suas bases.

Os famosos “esquerda-caviar” são aqueles que ganharam apelido por defender a bandeira política de esquerda e não abrirem mão dos confortos que o capitalismo proporciona. Já os “coxinhas” e “reaças” ficaram conhecidos por serem direitistas conservadores que não querem dividir seus bens com os mais necessitados e querem manter a opressão das minorias.

Como foi dito, pela mistura política que há hoje, uma crítica ao PT lhe torna um “reaça” e uma crítica ao PSDB lhe torna um “coxinha”. É triste, mas é real!

E o interessante é que os partidos surgiram de movimentos de esquerda, porém, em suas práticas, já defenderam e propuseram atitudes de diversas orientações, “oprimindo” e “libertando” inclusive.

Mudar de posição é um direito de todos. O que não se pode perder é o direito de se indignar.

E é a indignação que auxilia na construção de um povo civilizado.

Antonio Gelfusa Junior é diretor do SP Grupo de Jornais.