Desde a gestão Covas as obras de expansão da Linha 2 são discutidas, canceladas, anunciadas – outra vez -, paralisadas e claro, consumindo milhões dos cofres públicos. Agora com o novo prazo, será que o Governo cumpre o prometido?

Uma das facilidades no país, quando se trata de ser um político, é justamente a de nunca pegar um transporte público, a menos que seja para inauguração ou campanha política visando um pleito. Talvez por isso, obras importantes acabam sempre paradas, como as da expansão da linha 2 do Metrô, Vila Prudente – Dutra, que prevê a construção de 14 estações do metrô a um custo de mais de R$ 6 bilhões.

A razão pelo atraso – que ocorreu em diversas gestões desde a inauguração do primeiro trecho Paraíso – Consolação, em janeiro de 1991, sempre foi a questão financeira e os superfaturamentos. Nesta semana, no dia 24, o governador Tarcísio de Freitas anunciou na sede da Bovespa, em São Paulo, que o Governo utilizaria uma parte do dinheiro arrecadado no leilão da Sabesp, para agilizar diversas obras, dentre elas a expansão das linhas 4 – Amarela e 5-Lilás.

Em outra reportagem já realizada neste jornal, sobre a privatização da Sabesp, ficou claro a importância de se empregar o dinheiro arrecadado nos projetos de saneamento e distribuição de água pelo Estado, até para que as taxas de conta de água tenham o valor reduzido como esperado. 

O leilão de 32% das ações do Governo na Companhia de Saneamento Básico do Estado de SP rendeu aos cofres públicos R$ 14,8 bilhões e destes, R$ 10,3 bilhões já têm destino: “Existem muitos projetos do Governo que precisam de investimento, sendo as extensões da Linha 4 e 5 extremamente importantes. Não tem como não investir uma parte disso”, disse o Governador.

Será que o Governo segue o caminho certo?

A linha que já começou “bamba” e sem contrato
Inaugurada no dia 25 de janeiro de 1991, a linha 2 Verde do Metrô com o trecho Paraíso – Consolação contava apenas com 4 estações e 5 trens que não eram seus, mas sim das Linhas 1 Azul e 3 Vermelha do Metrô. Percorriam assim apenas 2,9 km de extensão. Somente um ano depois, o então Governador Fleury assinou contrato de aquisição com a Mafersa, para adquirir 22 trens para a linha, no valor total de 260 milhões de dólares financiados pelo BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. 

Naquele tempo, embora as obras tivessem começado em 1987,  muitos contratos foram fechados apenas a partir de 1990. O lote 4, que compreendia o trecho entre as estações Sumaré e Vila Madalena, foi o mais problemático, tendo contrato fechado apenas em 1995, na gestão Mário Covas. Ocorre que nestas obras, surgiu a denúncia de superfaturamento, uma vez que os gastos ultrapassaram o limite de 25% que era, naquele tempo, a percentagem permitida de custos extras. 

Para complicar, as obras que iniciaram sem contrato, contaram com diversos reajustes no preço do material e mão de obra, enquanto surgiram inúmeros problemas de infiltração em vários pontos. Assim, em 1992, houve a primeira paralisação das obras, por conta da análise dos prejuízos e da grave crise financeira que envolvia o metrô de São Paulo e a gestão dos projetos devido aos altos custos. 

Somente 10 anos depois, na gestão Geraldo Alckmin, as obras de expansão da linha 2 Verde retomaram com o trecho Ana Rosa – Sacomã iniciado em 31 de março de 2003. A obra foi entregue em 2006.

Em 2007 foi entregue o trecho até a Estação Alto do Ipiranga. Em 2010, foram inauguradas várias obras importantes para a linha, tais como a Inauguração oficial da Estação Sacomã; a interligação da Estação Consolação para a Estação Paulista da Linha 4 Amarela e a inauguração das estações Vila Prudente e Tamanduateí.

Expansão para a Zona Leste
É previsto que a Linha 2 Verde chegará até a Penha, conectando-se com a Linha 3-Vermelha. Ao todo, 1,2 milhão de pessoas serão beneficiadas com 8 novas estações: Orfanato, Santa Clara, Anália Franco, Vila Formosa, Santa Isabel, Guilherme Giorgi, Aricanduva e Penha.

A expansão tornará a Linha 2-Verde a mais extensa do sistema com 23 quilômetros. Também vai diminuir os tempos de trajeto da população da Zona Leste e redistribuir o fluxo de passageiros de toda a rede sobre trilhos. Essa tão sonhada obra não começou há poucos meses. O projeto desenvolvido pelo Metrô foi anunciado entre 2008 e 2012. O financiamento da obra saiu apenas em 2013, concedido pelo BNDES, no valor de R$ 1,5 bilhão – o que representou na época 45% dos investimentos no setor.

Em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, o governo deu início às desapropriações. Inúmeras casas e até pequenos prédios mais antigos de bairros como a Penha cederam lugar para as obras, no entanto, permaneceram parados até 2019 por falta de dinheiro.

Boa parte dos imóveis negociados e desapropriados no trecho Vila Prudente – Penha de França já haviam sido demolidos e permanecem assim, parados, até hoje, implicando em vários problemas à população local.

Somente em 2019, o então governador João Dória anunciou a retomada das obras, dividida em duas fases: a primeira, da Vila Prudente–Penha e a segunda, da Penha–Dutra, a fim de gerenciar melhor os custos. Em janeiro de 2020, saiu a ordem de serviço para início das obras desta primeira fase, que compreende 8,3 km de extensão, 8 estações e investimentos de R$ 13,4 bilhões, com prazo de conclusão previsto para 2026.    

Contudo, o tatuzão – que foi importado da China, só chegou ao porto de Santos em maio de 2023, sendo transportado à capital pela rodovia Imigrantes. No total, foram necessários mais 3 meses para montar 70 peças, sendo o equipamento concluído apenas em agosto do mesmo ano. Batizado de “Cora Coralina”, o “tatuzão” finalmente chegou à futura estação Vila Formosa, na zona Leste, em fevereiro deste ano.

Construída em uma área de 9,1 mil metros quadrados e a 44 metros de profundidade, a estação Vila Formosa tem 49% das obras concluídas e acesso pelo encontro da avenida Dr. Eduardo Cotching com a rua Tauandê, na zona leste. Segundo a Secretaria dos Transportes, as obras seguem dentro do prazo, sem risco de novos atrasos, com o planejamento econômico em dia. “Diferente do passado, as obras ocorrem conforme o previsto sem risco de paralisações”.

A abertura do túnel
A operação da tuneladora está estruturada em duas etapas, sendo a primeira do Complexo Rapadura, na Vila Formosa, até o poço Falchi Gianini, entre as paradas Vila Prudente e Orfanato, passando também pelas estações Vila Formosa, Anália Franco e Santa Clara. Depois, o tatuzão será desmontado e remontado no canteiro de obras da estação Penha, para a segunda etapa de escavação, no sentido do Complexo Rapadura.

A conclusão do metrô até a Penha é prevista por sua vez em 2027. Segundo o Governador, “Quando o trecho estiver operando da Penha até a Vila Prudente, a gente vai agregar mais de 300 mil passageiros no sistema. São 300 mil passageiros que vão ganhar mais tempo”, afirmou Tarcísio.

Ainda existe um longo caminho para o tatuzão percorrer e a pergunta que fica, diante de tantas promessas, é se o dinheiro empregado será mesmo suficiente para a conclusão das obras no prazo prometido. Se faltar dinheiro para uma destas fases da Linha 2 do metrô, qual seria a próxima privatização a resolver o problema e salvar a pele do Governo? 

Até lá, inúmeras áreas seguem vazias, acumulando lixo, insetos, roedores e muita insatisfação da população. São milhões que saíram dos cofres públicos e até agora não retornaram ao povo. Estaria o governo realmente cumprindo o que promete? 

Reportagem: Fernando Aires. Foto: Divulgação.

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