O Brado Retumbante, nova minissérie da TV Globo, chama atenção pelo fato de ter características fortes pelo primor, qualidade das filmagens, roteiro e produção final. Aliás, sem discutir outros tipos de programas, conteúdos ou atuação do jornalismo da emissora, em matéria de qualidade em produção de novela e minisséries, o parque de produção e criatividade da emissora são bem servidos e diferenciados. O que mais chama atenção também é o fato do enredo não ter relações exatas com a realidade por trata-se de ficção, porém, ao mesmo tempo, muitas das cenas e trechos condizem com a realidade de parte considerável de nossa classe política, vejamos algumas: 1) Existe um senador que está há mais de duas décadas e manda e desmanda no sistema político. Aplicando chantagens e utilizando-se de jogo de interesses, o senador possui materiais incriminatórios sobre a vida pessoal do presidente; 2) O tio do presidente torce por uma “boquinha” no governo ou no ministério, não liga para o nepotismo, articula contra o próprio sobrinho e vive em prostíbulos pagos com dinheiro público; 3) O ministro da justiça, na trama, interpretado por José Wilker, é suspeito de corrupção ativa e é demitido após investigação. Com a demissão, ele se aproveita do fato de ter sido eleito deputado federal pelo povo e volta à câmara dos deputados. Na sequência aproveita de seus contatos e conchavos para se tornar presidente da casa; 4) O ex- ministro e agora atual presidente da câmara vê, “com bons olhos”, a encomenda de um atentado ao presidente da república já que o deputado seria o próximo a assumir o cargo na linha de sucessão; 5) Os políticos e o próprio presidente, interpretado pelo ator Domingos Montagner, se envolvem com outras mulheres mesmo casados; 6) O genro do presidente tem relações com a oposição do sogro e os mantém avisados sobre os passos e atuações do comandante do país; 7) Filhos e outros parentes se aproveitam do status de “filho” e “parente” do presidente para tentar ocultar escândalos e ganhar discussões pela influência. As novelas e minisséries, muitas vezes com histórias fictícias, tentam trazer parte da realidade de profissões e debates polêmicos através dos personagens e roteiros. Assim como está escrito no final de cada capítulo, “qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência”, francamente, só pode ser muita coincidência mesmo!

Antonio Gelfusa Junior  é diretor  de marketing do SP Grupo de Jornais  (SP Jornal, Jornal de Vila Carrão,  Jornal do Tatuapé e Jornal de Vila Formosa).