Quem acompanha os editoriais desta empresa jornalística e os conteúdos discorridos por aqui sabe que a postura dentro da missão do grupo é a positividade e o otimismo, mesmo diante de qualquer momento dificultoso.

Sempre a metade do copo cheio é mais interessante do que a ótica da metade do copo vazio.

Entretanto, nos últimos dias, tem sido praticamente impossível não reparar, e ao menos desconfiar, dos rumos em que a economia e a política brasileira têm atravessado.

Quando se apresentava o já escandaloso déficit de cerca de R$ 50 bilhões para fechar as contas do governo, numa sequência arrasadora, apresentou-se um rombo total neste ano de R$ 117,9 bilhões.

Os dados foram apresentados por Hugo Leal, deputado relator da revisão da meta fiscal de 2015.

O ministro da fazenda, Joaquim Levy, disse que está colocando a casa em ordem, uma vez que os gastos públicos foram descontrolados nos anos anteriores.

A humildade de reconhecer a desordem nas contas públicas é elogiável, porém, isso também significa que a população foi enganada nas afirmações feitas no 2º semestre do ano passado.

O mercado já falava a respeito da negatividade e da desordem nos gastos públicos, porém, a recessão prevista esses dias por documentos oficiais do próprio governo é de -2,8% em 2015. Para efeito de comparação, isso não acontecia desde 1940. O desemprego chegou a 2 milhões de brasileiros no ano.

Dilma Rousseff, em seu horário eleitoral durante candidatura a reeleição, não teve receio, medo ou mesmo vergonha de mentir dizendo que a inflação não aumentaria, assim como a gasolina, luz, dólar e os preços de bens básicos. Aliás, em uma entrevista concedida ao jornalista Carlos Nascimento, a presidente disse que a volta da CPMF seria um absurdo, porém, anos depois, em discursos do seu dia a dia para imprensa e para o mercado, diz que não pode prescindir dessa contribuição.

Dilma e o seu partido praticaram sim o estelionato eleitoral. O ex-presidente Lula, recentemente, disse que recuperar a economia é a única forma de recuperar a confiança das pessoas. Disso ninguém discorda, até porque a rejeição ao governo atual só aumenta a cada pesquisa realizada.

O PMDB, partido aliado ao PT, lançou um documento-roteiro para indicar ao governo ações coerentes a serem feitas para controlar a economia com reformas políticas e tributárias, por exemplo.

Se o principal partido aliado precisa de um documento oficial para mostrar os erros econômicos e políticos ao próprio governo que apoia é porque não há mais respeito na relação conjunta.

É inegável que toda crise é uma grande oportunidade de fazer diferente, de melhorar as relações ou mesmo enxugar os gastos necessários, porém, infelizmente, a impressão que fica é o fato de que valeu de tudo para ganhar a eleição de 2014.

E pelo visto quem vai pagar a conta, novamente, é o povo já espremido em suas finanças!

Antonio Gelfusa Junior é diretor do SP Grupo de Jornais.